top of page

Biografias

Eles têm em comum a disposição de compartilhar suas experiências de vida.

Os textos abaixo são pequenas biografias escritas pela Historiadora Renata M. Pistilli Eberhard, que contam um pouco da história de cada um de nossos entrevistados.

Alair Corbani (2° geração):

O Sr. Alair Corbani tem hoje 85 anos e nasceu no dia 23 de fevereiro de 1930, como décimo filho de Francisco Corbani e Leonor Castilho, ambas as famílias entre as primeiras chegadas no Distriro, ele filho de imigrantes italianos, ela de portugueses. Os Corbani são provenientes da região de Cremona, mais precisamente do lugarejo de Sesto Cremonese. Sua mãe era costureira e com ela aprenderam a costurar muitas moças de Quiririm, segundo ele. Naquela época, após o término dos quatro anos de escola, e como via de regra não continuavam seus estudos, as moças iam aprender costura. Seu pai era lavrador.

O Sr. Alair viveu praticamente a vida toda em Quiririm, tendo permanecido apenas por quatro meses em Guararema, no ano de 1937. Como era costume em seu tempo, começou a trabalhar bastante jovem, tendo sido seu primeiro trabalho a lavoura. Mais tarde, foi vendedor na Casa Castro, antiga mercearia do Núcleo, e depois na Mercearia do Sr. Bento, ao lado da estação ferroviária. Deste tempo, gosta de se lembrar das entregas de mercadorias trazidas pelo trem da cidade de São Paulo, da Casa Matarazzo, para Quiririm: banha, manteiga, queijo, querosene, sabão, sal, entre outros.

Além de trabalhar no comércio e na lavoura, seu Alair trabalhou também na fábrica de cordas de Humberto Indiani e, por último, como inspetor escolar, função na qual se aposentou. Dessa época, gosta de se lembrar das conversas com Sr. Alessio, aliás Alessio Ponsoni, seu antecessor no cargo, o qual lhe contava muitas histórias sobre os primeiros tempos do Núcleo.

Seu Alair, como é carinhosamente chamado pelos habitantes do Distrito, é considerado por estes uma “autoridade” quando a assunto é o Esporte Clube Quiririm. Dele fez parte como jogador, entre os anos de 1945 a 1955, sendo depois, diretor esportivo de 1959 a 1968. Há algum tempo, tem se dedicado a escrever suas memórias sobre o Clube, tendo já conseguido lembrar-se da escalação do time no ano de 1938, e da maior parte das  décadas de 40, 50 e 60.

Delmo João Carlos Montesi (1° geração)

O Sr. Delmo Montesi tem hoje a idade de 88 anos e nasceu em 10 de março de 1923 em Quiririm, como filho de Albino Montesi e Rosa Ganassali Montesi. Ambas as famílias chegaram ao Brasil em 1890, vindas da região de Cremona, sendo certo que os Montesi saíram do lugarejo de nome Castelnuovo Bocca d´Adda.

Delmo Montesi viveu quase toda a sua vida em Quiririm, tendo passado apenas um ano em Pindamonhangaba, na Fazenda da Mombassa. Perdeu seu pai muito cedo e com 14 anos começou a trabalhar na lavoura o sustento da família. Dessa época lembra-se bastante das conversas que tinha com o Sr. Virgílio Valério.  Em 1948 casa-se com Maria Irene Pistilli e esbelece-se por conta própria.

Foi agricultor a vida toda. Na década de 70 reinicia uma atividade que seu pai havia praticado por algum tempo logo nos começos da colônia: a criação de bicho-da-seda, mas não a pratica por muito tempo.

Além de agricultor, o Seu Delmo sempre foi,  assim como seu pai já havia sido, uma pessoa bastante engajada nas atidades da colônia: depois de ter jogado por alguns anos no Esporte Clube Quiririm, entre 1940 e 1947, foi tesoureiro do mesmo por aproximadamente 20 anos. Participava também da organização das festas religiosas de Quiririm e, por último, esteve no grupo que organizou Festa Italiana comemorando o centenário da Colônia.

Dionéia Aparecida Gadioli Bariani ( 2° geração)

D. Dionéia tem hoje 76 anos e nasceu em Quiririm em 04 de abril de 1939, como filha mais velha de Dídimo Gadioli e Lourença Valério Gadioli, a D. Lora. Tanto os Gadioli, provenientes da região de Mantova, mais precisamente de Lustinente, quanto os Valério, provenientes da região de Campobasso, mais exatamente de Cercemaggiore, fizeram parte dos primeiros colonos do Núcleo.

 Passou toda sua infância em Quiririm e desta época gosta de se lembrar de sua nona, Teresa Boozi, mãe de seu pai, a qual, segundo ela, só falava italiano e se vestia como uma “italiana pura”, sempre de vestido longo, avental e lenço na cabeça. De seu pai,  um grande contador de histórias, lembra-se com muito carinho das inúmeras vezes em que era chamado para apartar as brigas de futebol em que seus se metiam. De sua mãe, lembra-se de sua maestria na cozinha e dos dias inteiros que passava fazendo latugue, turtei e marubim, na época do Natal. 

 D. Dionéia morou por quase toda a vida em Quiririm, tendo vivido fora apenas no tempo em que iniciou sua carreira como professora, nas cidades de Jacareí, Caraguatatuba e São José dos Campos. Não se vê morando em outro lugar.

 

José Nival Bocalare (2 ° geração)

O Sr. Zé Bocalare, como é conhecido em Quiririm,  tem hoje 84 anos e nasceu no dia 15 de fevereiro de 1931 em Quiririm, filho de Alexandre Bocalare e Amabile Coradi Bocalare. A família Bocalare fez parte do grupo de de primeiras famílias a adquirir lotes na Núcleo Colonial e é proveniente de Grumello na região de Cremona. 

A sua infância, assim como toda a sua vida,  o Sr. Zé viveu-a em Quiririm e desse tempo lembra-se muito bem de ajudar seu pai na lavoura, que era praticada quase sem auxílio de máquinas. Também lembra-se da comida que era feita toda em casa, desde o pão e o macarrão, que eram feitos em grandes quantidades, como também dos salames e linguiças, bem como da carne que era conservada em grandes latas com gordura derretida.

Após a morte do pai, ele e seu irmão Cesídio resolveram abandonar o trabalho na lavoura e foram aprender o ofício de pedreiro com um tio. Os irmãos Bocalare trabalharam como pedreiros a vida toda e por suas mãos foram construídas muitas casas do Distrito de Quiririm. Seu Zé conta que em seu tempo o pedreiro não se limitava a construir a casa, mas fazia toda a instalação elétrica e tudo o mais, deixando-a pronta para a entrada do proprietário. Diz ser uma satisfação hoje, depois de ter atuado por 55 anos na profissão,  observar suas obras pelas ruas.

João Aristodemo Canavese (2° geração)

O Sr.  Demo, como é conhecido em Quiririm, tem hoje 87 anos e nasceu em Quiririm no dia 03 de maio de 1928, como filho de João Batista Canavese e Mariana Pistilli Canavese, ambas as famílias chegadas ao Núcleo logo em seus começos. Os Canavese são provenientes da província de Cuneo, no Norte da Itália, e os Pistilli, de Vinchiaturo, província de Campobasso, no atual estado do Molise.

Fez parte do pequeno grupo de crianças da segunda geração que, ao invés de ser iniciado cedo no trabalho, pôde continuar seus estudos após o término do primário, tendo frequentado a Escola Diocesana em Taubaté. Foi aluno interno e desta época lembra-se que, aos finais de semana, voltava a pé para casa com sua mala de roupas usadas na semana.

Após a conclusão da escola básica, formou-se contador. Dessa época, lembra-se também com muito carinho da época em que, por frequentar a Escola de Comércio em Taubaté, jantava na casa dos Guarnieri/Ponzoni que já moravam na cidade nessa época. Mais tarde, formou-se também bacharel em Direito. 

Mesmo sendo formado, não se afastou da lavoura e dedicou-se ao plantio de arroz,  feijão e batatas até a idade aproximada de 70 anos. De sua mocidade lembra-se com prazer de sua atuação no Esporte Clube Quiririm como jogador e posteriormente como diretor, tendo trabalhado por um longo também para as festas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e tendo estado entre os apoiadores mais assíduos das festas comemorativas de aniversário da colônia.

José Indiani (1° geração)

O Zé I, como é carinhosamente chamado pelos amigos em Quiririm, tem hoje a idade de 85 anos e nasceu em Quiririm no dia 13 de janeiro de 1931, como único filho de Gaetano Indiani e Adelia Salari Indiani, ambos provenientes de Calvatone, região de Cremona. Na verdade, o Sr. Gaetano já vivia há muito tempo com sua família no Brasil, quando conheceu Adelia em uma uma viagem a Itália.

Viveu a vida toda em Quiririm, uma parte dela no sobrado que hoje é sede do Museu da Imigração Italiana. Dessa época lembra-se com imensas saudades, dizendo ter sido a mais feliz de sua vida: as frutas, a pesca no rio Paraíba, tão próximo, a caça aos animais nas redondezas. Tudo isso tornava a vida ali muito bonita.

Como membro de família empreendedora, proprietária de olaria, fábrica de cordas e pomar de laranjas, foi iniciado muito cedo no trabalho. Com sete anos, já ajudava executando pequenos trabalhos e assim foi até casar-se, com a idade de 25 anos, com Nely Alvarenga, no dia 20 de maio de 1956. Após o casamento , trabalhou alguns anos na lavoura e acabou tornando-se funcionário público, profissão essa na qual aposentou-se.

Hoje em dia, dedica-se a recordar-se dos primeiros tempos de Quiririm, tendo escrito o livro “Os Italianos em Quiririm e Minhas Memórias”, publicado em 2008. Dedica-se além disso às suas coleções, que não são poucas: orquídeas, animais empenados, cascas de ovos, fotografias.  Espírito inquieto, curioso, narrador de primeira, com certeza ainda nos supreenderá nos próximos anos.

José Pistilli (2° geração)

O Sr. José Pistilli tem hoje a idade de 86 anos e nasceu em Quiririm, como terceiro filho de Miguel Pistilli e Maria Rosa Ponsoni, ambas as famílias chegadas nos primeiros tempos do Núcleo Colonial, sendo os Pistilli provenientes de Vinchiaturo, na região de Campobasso, e os Ponsoni de Calvatone,  região de Cremona. É irmão de Maria Aparecida Pistilli Sene.

Começou a trabalhar muito cedo, primeiramente vendendo as bananas de sua avó Gaetana pelas ruas do Distrito e limpando seu quintal e galinheiros aos sábados, depois levando de bicicleta o almoço para seu pai na roça, no Cafarnaum, hoje bairro do Cecap. Com a idade aproximada de 11 anos, começou a trabalhar com o pai na lavoura. Dessa época, gosta de lembrar-se da compra do primeiro automóvel, um “Fordeco”, no qual passaram a viajar todos os parentes que tinham lavoura no bairro de Sá e Silva, em Caçapava: seu pai, ele próprio, seus tios Oscar Leite, Alfredinho Taino e Alfredão Barbieri.

Desta época gosta de lembrar-se também de sua atuação no Esporte Clube Quiririm como jogador, a qual ele considera ter sido apenas mediana, e principalmente das atuações honrosas do time do coração da maioria dos habitantes da colônia, o Palmeiras. Lembra-se de cabeça de muitas escalações do Palestra, como por exemplo, a de 1942, ano em que o time foi campeão invicto.

Viveu a vida toda e vive ainda hoje em Quiririm, tendo trabalhado nas lavouras de arroz, feijão e batata, além de ter-se dedicado por algum tempo à pecuária leiteira, até a idade aproximada de 80 anos.

Maria Lourença Taino Coutinho (2° geração)

Maria Lourença Taino Coutinho tem hoje a idade de 78 anos e nasceu em Quiririm em 13 de março de 1937 como segunda filha de Alfredo Taino e Carolina Pistilli Taino. Viveu praticamente a vida toda em Quiririm, tendo passado apenas um ano fora, na fazenda Sá e Silva, ainda quando menina. Dessa época, gosta de recordar-se da convivência com Cabral, empregado de seu pai, que depois acompanhou-os a Quiririm.

De sua infância gosta também de se lembrar das reuniões familiares organizadas por seu pai, principalmente as de final de ano, quando seu tio, Renato Giovanelli, marcava presença com sua sanfoninha de oito baixos.

Com a idade de 18 anos casou-se com Germano Deodato Coutinho, também ele filho de imigrantes, nesse caso, portugueses. Depois de casada e do nascimento dos dois filhos, D. Lei, como é conhecida em Quiririm, voltou a estudar e tornou-se professora, profissão essa que exerceu por toda a sua vida.

Do Quiririm de antigamente, gosta de lembrar-se também do engajamento de seu pai no Esporte Clube Quiririm, do qual foi jogador junto com seus irmãos Olavo, Ricardinho e Toninho, e posteriormente treinador do time dente-de-leite e diretor.  Lembra-se com muito carinho das ocasiões em que o time do Palmeiras jogou em Quiririm e, principalmente da ocasião em que, após o jogo, foi almoçar em sua casa.

Maria Aparecida Pistilli Sene (2° geração)  

A D. Cida, como é conhecida pelos quiririenses, tem a idade de 78 anos e nasceu no dia 14 de outubro de 1936 em Quiririm, como sétima filha de Miguel Pistilli e Maria Rosa Ponsoni, ambas as famílias chegadas nos primeiros tempos do Núcleo Colonial, sendo os Pistilli provenientes de Vinciaturo, na região de Campobasso, e os Ponsoni de Calvatone, região de Cremona.

Morou praticamente a vida toda em Quiririm, de onde esteve ausente por apenas dois anos, logo depois de seu casamento. De seu tempo de infância gosta de se lembrar das ruas de terra do Distrito, das brincadeiras na rua e de sua professora Alice Klier Monteiro, a qual ela e suas amigas iam buscar em casa para acompanha-la até a escola, revesando-se para segurar sua bolsa. Dessa época lembra-se também das visitas entre as famílias para apreciar os presépios na época do Natal.

Começou a trabalhar bastante cedo, vendendo bananas para a sua avó Gaetana Valério Pistilli, a qual possuía uma pequena chácara onde criava animais e tinha árvores frutíferas, das quais provinham as bananas para a venda e frutas para doces e compotas. Ainda adolescente, aprendeu a costurar.

Depois de casar-se com Hérnio Sene, também ele descendente de família italiana radicada em Taubaté, D. Cida exerceu o ofício de costureira por algum tempo e depois retomou os estudos e formou-se professora, profissão essa que exerceu a vida toda e na qual se sposentou.

Por ocasião da primeira Festa italiana, foi perguntada se queria colocar uma barraca e imediatamente se decidiu por uma de doces. A partir de então, já quase aposentada de sua segunda profissão, passou a fazer doces italianos e trouxe de volta para muitas mesas de Quiririm  uma receita tradicional herdada das primeiras famílias: a torta de nozes natalina. Há alguns anos já não tem mais a barraca na festa, mas continua produzindo doces e as encomendas de torta por ocasião do Natal e do Ano Novo chegam vinte e cinco a trinta e cinco todos os anos.

Maria Boari (2° geração)

A Sra. Maria Boari tem hoje a idade de 88 anos e nasceu em Quiririm, no bairro do Cafarnaum, filha de Angelo Boari e Josefina Alves Moreira, sendo portanto fruto de laço matrimonial entre brasileiros e italianos em um momento em que isso ainda não era frequente na colônia. Os Boari são provenientes provavelmente da região de Mantova.

Viveu por quase toda a sua vida em Quiririm, tendo no entanto, vivido durante a infância, por algum tempo em Redenção da Serra. Começou a trabalhar muito cedo, primeiro, ainda criança, limpando com sua mãe os pomares de laranja do Bastos, onde morava. Depois trabalhou na lavoura do arroz e foi lavadeira na “Bica do Vicentinho”.

De sua infância, gosta de lembrar-se da época do Natal, durante a qual podia-se ouvir os gritos dos bichos que eram abatidos para as festas. Não se lembra de ter vivenciado quando criança a tradição de Santa Lucia, pela qual na noite de 12 para 13 de dezembro, essa santa deixaria doces para as crianças em troca de capim para seu cavalo.

Dessa época lembra-se também do fascínio exercido pelas conversas em italiano entre seu pai e Francisco Boccalari, das quais ela e seus irmãos não conseguiam entender nenhuma palavra. Para eles, provavemente através da convivência com a mãe brasileira, sua língua já era o português...

D. Maria faleceu durante a edição do vídeo-documentário, no início de 2016.

Theresa Ponzoni D´Angelo (2° geração)

Theresa Ponsoni D´Angelo tem hoje a idade de 90 anos e nasceu no bairro do Pinheirinho no dia oito de outubro de 1924, filha de Angelo Santo Ponzoni e Rosina Guarnieri, ambas famílias chegadas muito cedo no Núcleo Colonial de Quiririm e provenientes, os Ponzoni, de Calvatone, na região de Cremona, e os Guarnieri, de Colle d´Anchise, na região de Campobasso. 

Morou apenas até a idade de 13 anos em Quiririm, tendo-se mudado depois para Taubaté, em razão de seu pai, então empregado na Beneficiadora de Arroz de Vito Ardito ter sido transferido para a cidade. Sua família nunca deixou de sentir-se afetivamente ligada a Quiririm, e vivia essa ligação por meio de visitas às casas dos avós, tios e amigos. Depois da transferência de muitas famílias de Quiririm para Taubaté, segundo ela, deu-se a formação de um grupo de quiririenses em Taubaté, o qual se conservava ligado por meio de visitas mútuas frequentes.

Depois que tirou o diploma escolar, aprendeu a costurar e exerceu essa profissão até aposentar-se. De suas mãos saíram muitos vestidos de noivas de Quiririm. Casou-se com Antonio D´Angelo, também ele descendente de italianos, de família radicada em São Paulo, e por essa razão viveu naquela cidade por alguns anos, no bairro do Bexiga.

Até hoje permanece intensamente ligada a primos e primas de Quiririm, alguns deles entrevistados para esse documentário e, bastante interessante, é a amizade mantida até hoje com membros da família Indiani, os quais também são provenientes do mesmo lugarejo italiano, Calvatone.

bottom of page